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domingo, abril 27

Mais relatos de violência gratuita(*)



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Já são cinco os casos de agressões aparentemente sem motivo em Pelotas; as vítimas sequer foram roubadas

Cinco relatos de jovens espancados sem motivo aparente nos últimos nove meses na cidade. Em nenhum dos casos as vítimas sequer foram roubadas e três deles somam-se aos arquivos de boletins de ocorrência da Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA).

A partir do depoimento do estudante Ruan Andrade - agredido há duas semanas por cerca de 20 jovens na rua 15 de Novembro, nas proximidades da Catedral Metropolitana São Francisco de Paula - outros casos começaram a ser relatados em redes sociais, contrariando a posição policial que disse na oportunidade ao Diário Popular que agressões sem motivo eram inéditas na cidade.

Ao ver um grupo de jovens caminhando pela rua, a ação de Ruan é instintiva. O estudante entra no primeiro estabelecimento comercial disponível e espera a passagem do bando. O trauma das agressões sofridas no início daquela noite de domingo, 13 deste mês, mudou a rotina deste paulista de Mairinque. As atividades que ele normalmente fazia à tarde foram deixadas de lado. Agora, teme andar sozinho nas ruas. A família pede o retorno para a cidade natal, porém, o jovem de 20 anos pretende acabar a faculdade (Gestão Pública, na UFPel) em Pelotas.

O medo que Ruan hoje sente reflete a situação das outras vítimas agredidas em diversos pontos da área central. As ruas Almirante Barroso e Félix da Cunha, além do entorno do Mercado Central, já foram palco das agressões sem motivo aparente, apenas pelo “prazer e a diversão” demonstrados pelos agressores - segundo as vítimas. O incômodo ao falar do assunto trouxe ao fim de cada entrevista alguns questionamentos. Por que tanta raiva? Qual o motivo de estragar a vida de quem simplesmente passa próximo a estes determinados grupos? Por que tanta falta de segurança? A quem recorrer?

O que eles passaram?

Caso 1 - Agosto de 2013

Ao retornar de uma boate por volta das 4h, um estudante do curso de Cinema e Animação da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) caminhava com um amigo pela rua Félix da Cunha esquina Dom Pedro II quando três homens desceram de um carro e foram em direção aos rapazes. Natural de Guanhães (MG), o jovem de 21 anos imaginou que seria o sexto assalto que sofreria em três anos de Pelotas. Engano. Ele e o amigo foram agredidos com chutes e pontapés. Pensou em acionar a Brigada Militar, mas o celular fora perdido na semana anterior - em um dos assaltos que sofreu. “No dia seguinte um misto de vergonha e medo me inibiu de procurar a polícia”, lamenta.

Caso 2 - Setembro de 2013

Era madrugada, 1h, rua Almirante Barroso próximo ao Campus II da Universidade Católica de Pelotas (UCPel). Um estudante, de 25 anos, do curso de Ciências da Computação da UFPel, voltava para a casa acompanhado de dois amigos quando um grupo de dez pessoas, de "boa aparência", segundo ele, entre homens e mulheres, passou pelo trio. "A partir daí veio o primeiro soco no rosto, sem dizer uma palavra", relata. Deitado no chão, ele viu uma pedra na mão de um dos agressores e junto as outras duas vítimas conseguiu fugir. "Foi um ato desesperado para escapar, a adrenalina subiu demais." O estudante diz que registrou o boletim de ocorrência 48 horas depois.

Caso 3 - Março de 2014

Ainda abalada, a vítima pouco se manifestou sobre o ocorrido, mas pretende colaborar para encontrar os responsáveis. Golpeado principalmente na cabeça e isolado há cerca de um mês em casa, ele garante, via facebook, que não tem ódio dos agressores. “Apenas tenho tentado entender o que leva alguém a bater tanto na cabeça de um desconhecido sem motivo algum.” A vítima, que não quis contar onde foi atacada, pretende registrar ocorrência no início desta semana.

Caso 4 - Abril de 2014

Eram 19h30min quando a vítima de 17 anos saiu do Restaurante Universitário (RU). A poucos metros dali, ao lado do Mercado Central, passou por um grupo de cerca de 20 pessoas. O primeiro soco foi na cabeça, sem uma palavra, sem nenhum motivo. Ele então correu em direção ao calçadão da Andrade Neves. Não esperava, porém, que os agressores tivessem se dividido. Um outro grupo o esperava na esquina da Lobo da Costa, a cerca de 50 metros do primeiro ataque, para continuar a sessão, gratuita, de espancamento. “Fui salvo por senhoras que ameaçaram chamar a polícia”, conta. As dores por todo corpo renderam 48 horas acordado, sem posição confortável para dormir. Os dois dias foram o tempo levado para o jovem, que saiu do balneário Pinhal, Litoral Norte do Estado, para cursar Letras na UFPel, fazer o boletim de ocorrência.

O que diz a polícia

"Esses casos não são mais novidade para nós, da polícia. Já estamos investigando e trocando informações com outras delegacias para identificar a autoria. Acreditamos que há ligações entre os casos. Em breve teremos novidades. Agora, se outras ocorrências virem à tona, elas não podem ficar restritas ao Facebook, as vítimas precisam procurar a polícia para registrar ocorrência."
Delegado Sandro Bandeira, titular da 1ª Delegacia de Polícia

Ato Público


Estudantes da UFPel estão programando para o feriado do dia 1º de maio, Dia do Trabalhador, um ato público contra a violência em Pelotas. O evento, a ser realizado no largo Edmar Fetter (Largo do Mercado), está sendo convocado via rede social Facebook. Até o fechamento desta edição, na noite de sexta-feira, 639 pessoas, de um total de 6,7 mil convidados, haviam confirmado presença.

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