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quinta-feira, junho 27

Boate Kiss I: 'Também somos responsáveis', diz pai em audiência do caso Kiss no RS


Militar aposentado foi à casa noturna com a esposa, filha e genro.
O namorado da filha morreu após 10 dias internado em Porto Alegre.

Quinta testemunha a ser ouvida nesta quinta-feira (27), segundo dia de audiências na Justiça de Santa Maria sobre a tragédia na boate Kiss, o militar da reserva João Batista Silveira Gonçalves disse que a responsabilidade pela tragédia deveria ser compartilhada. O incêndio que matou 242 pessoas completa cinco meses nesta quinta.

No depoimento de pouco mais de 40 minutos, João lembrou o genro que perdeu naquela madrugada de 27 de janeiro, que ele considerava como um “filho”, e afirmou que as sociedades de Santa Maria e do Rio Grande do Sul e os pais das vítimas também são um pouco responsáveis pela tragédia.

“Nós pais também somos responsáveis pelo que aconteceu. Quantos de nós que acompanharam seus filhos a boates e no dia seguinte disseram a eles: 'aqui tu não vens nunca mais'?”, questionou, bastante emocionado.

João relatou que foi uma das primeiras pessoas a entrar na boate na noite de sábado, acompanhado da esposa, da enteada e do genro. Sentou em uma mesa em frente ao corredor principal da casa noturna e lá ficou até perceber o incêndio, que começou já na madrugada do domingo.
Ele contou que sentiu um “cheiro de queimado” quando levou a mulher ao banheiro, nos fundos da boate. Não percebeu o início do fogo no palco principal, mas viu uma movimentação que achou tratar-se de uma briga. Só sentiu que corria perigo quando a porta da frente da Kiss foi aberta e uma nuvem de fumaça negra começou a sair por ela.

“Como eu sou militar, tive treinamento para incêndio. Me abaixei, coloquei a camisa no rosto e agarrei os três que estavam comigo. A gente saiu agarrado um no outro, mas quem vinha atrás batia e nos separava”, lembrou.

Depois de se separar dos familiares, o militar conta que ficou preso em uma grade de contenção perto da única porta de saída da boate. Conseguiu pular e ganhou acesso à rua. Lá, encontrou a esposa, mas não as “duas crianças”. Tentou voltar para ajudar no resgate, mas foi impedido por policiais militares que já estavam na frente do prédio.

Os dois adolescentes conseguiram sair ou foram retirados da boate após alguns instantes, depois de terem respirado muita fumaça. O rapaz tinha sofrido queimaduras e estava desacordado. A menina ainda estava consciente. João diz que pediu atendimento a um socorrista do Samu, mas ouviu uma negativa como resposta.

Decidiu, então, levar os três familiares para atendimento médico no Hospital Universitário, no próprio carro. Lá, a menina também começou a passar mal e precisou ser entubada. Naquela madrugada, ambos foram transferidos para hospitais de Porto Alegre. O rapaz morreu depois de 10 dias internado. A enteada de João ficou mais de 20 dias no hospital, mas ainda hoje sofre com problemas respiratórios.

“Faltou responsabilidade de todos os órgãos públicos. Se eu for fazer uma obra na minha casa, em meia hora tem seis fiscais batendo na minha porta querendo embargar meu puxadinho. Por que isso não ocorria em outros estabelecimentos de Santa Maria?”, disse o militar da Base Aérea, ao responder um questionamento sobre o que considerava que faltava em termos de segurança na Kiss.

No testemunho concedido ao juiz, promotores e advogados de defesa e acusação, João afirmou ainda que foi à Kiss para acompanhar a enteada, que era menor de idade e fazia parte das turmas que estavam promovendo a festa. Na entrada, uma pessoa que se identificou como gerente do estabelecimento marcou a comanda dela com a palavra "menor" e o advertiu que a jovem estaria sob sua responsabilidade se consumisse bebida alcoólica.

Em um depoimento anterior, no entanto, a estudante universitária Fernanda Rodrigues declarou que frequentou a Kiss em três oportunidades, inclusive na noite da tragédia. Em todas elas, disse a jovem à Justiça, não teve problemas para entrar na casa noturna e ingerir bebidas alcoólicas mesmo sendo menor.


Fonte: Site G1 RS

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